quarta-feira, 26 de março de 2014

Sonhei com você

"...e a esperança de que ele esteja bem seja onde for, não diminui o vazio que ele deixou."

Sonhei com você, Geovane. Sonhei que ainda éramos velhos amigos (e primos, em primeiro lugar). Que a camisa do seu time ainda estava pendurada no varal como no dia em que você se foi. Eu ria, porque certa vez você me viu vestindo a camisa do time oponente e resolveu me dar a do seu, de presente. Falara: "Olha aqui, Aline, como essa é mais bonita que a sua."
Sonhei que ainda dirigia o seu velho carro onde só cabiam duas pessoas na frente e mais uma espremida no banco de trás. Admito que você entendia de carros bem melhor do que eu, mas aquele, meu amigo, não era mesmo um carro bom.
Sonhei que você ainda fazia piadas sobre eu me tornar alcoólatra morando em uma cidade universitária.
Quero te contar que me formei oficialmente a dois dias atrás e que bebo algumas cervejas sim, tenho amigos, tenho um trabalho, mas infelizmente ainda não tenho minha própria motocicleta. E por falar em motocicletas, por que mesmo você pegou a sua aquele dia? Saiu pra beber com seus amigos, não é mesmo?
Não te culpo por tê-la pego e muito menos por ter bebido. 
Não é hora de culpar ninguém por nada.
Mas você o fez. Bebeu e dirigiu. Acabou com a sua vida, e tirou parte das nossas.
Sonhei com seu riso farto. Com sua facilidade em fazer piadas em qualquer situação. Mas o que você fez não teve graça, amigo. O que você fez me doeu mais do que ver seu pai chorando. 
Quero te contar que a vida por aqui anda meio sem graça, que eu te pediria conselhos sobre o cara de quem sou afim e até te chamaria para beber, se você estivesse aqui.
Te conto por último, mas não menos importante, que a vó continua orando pelos netos como ela sempre fez. E acho incrível a capacidade dela de não distinguir quem tá aqui na terra de que não tá.
Quero te perguntar como é estar aí do outro lado. Se faz frio, se tem sol, e você já viu nosso avô por aí, usando aquela boina cinza e o meu outro avô, tomando uma coca gelada. Se realmente só tem gente boazinha como ensinaram quando éramos crianças.

Sonhei com você, cara. E isso me fez sentir sua falta de uma maneira inexplicável. 
E como não posso te pedir pra voltar, peço só que aguarde com calma. Não demora muito, sua esposa, seus pais, e a vovó vão chegar aí. É a lei dos homens de bem.
Tenha calma, que eu prometo ter calma por aqui também. 
Um abraço.








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