terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Manual prático de como ser ridículo

Ser ridículo faz parte da vida. Afinal, viver é ridículo.
Rotular pessoas loucas chamando-as de ridículas é ridículo.
Rotular pessoas como bem sucedidas é ridículo.
Gravatas com formas geométricas são ridículas.
Mandar “beijo” no final da ligação é ridículo.
Coçar o ouvido com a tampa da caneta é ridí... nojento, na verdade.

Antigamente eu pensava que as únicas coisas que me tornavam uma pessoa ridícula eram:
Procurar por auto-afirmação na frente de desconhecidos, fazer piadas sem graça e me apaixonar.
E querem saber? Se apaixonar é a coisa mais ridícula em todos os sentidos.
Há muito tempo não o faço, mas lembro em cada detalhe como é o ritual.
Pensar em uma só pessoa durante todo o tempo do seu dia é completamente ridículo.
Coração acelerado é ridículo.
Se arrumar é ridículo.
Contar os minutos é ridículo.
Eu gritei com a pessoa pela qual me apaixonei. E isso foi exageradamente ridículo.
É ridículo perder o controle da situação quando se ama.
“Mostramos o pior de nós quando brigamos com a pessoa que mais amamos.”
Se mostrar dessa forma é ridículo.
Sorrir é ridículo. Engraçado você aí com cara de bobo.
Abraçar inesperadamente é, digamos, ligeiramente ridículo.
Se lembrar de todas essas situações, deitado antes de dormir, é a forma perfeita de se sentir ridículo.  
E se sentir ridículo tem como conseqüência uma vontade inegável de nunca mais ser ridículo.
Cair em público é um exemplo ideal. Olha que legal.
Não dá uma vontade gigantesca de nunca mais cair?

Não podemos dar vexame, é ridículo demais.
Nem vestir a roupa ao contrário e ir almoçar.
Não podemos peidar, oh! Por que? Gases são ridículos.
Pochete é ridículo. O Doctor Rey é ridículo. 
E se você jogou o nome dele no Google foi ridículo. 

Passamos a vida tentando parecer firmes, amáveis e equilibrados, não podemos gaguejar nem sair do banheiro sem dar descarga. 
Mas nos esquecemos que o fato mais ridículo da vida é passar por ela tentando não parecer ridículo. 









Foto: Doctor Rey

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Brigou, cagou com tudo.

Dá pra entender exatamente porque algumas pessoas têm medo de amar. Amar dói. Dói pra caramba. “Aaah o amor é lindo”, lindo é seu nariz. Lindo pra mim é a gente viver livre, gostar de si, sair pra beber com os amigos e não ter hora pra voltar. Ou nem voltar. Lindo pra mim é o galã da novela, que eu só olho e quando acaba o capítulo eu vou dormir tranquila. Amor não é lindo. Só ilusão, que nem verão. Sol brilha, tudo muito legal na praia, até que chega a hora de comprar as roupas de frio e você se vê tremendo debaixo das cobertas. E cadê o verão que estava aqui agora à pouco? Entende o que eu quero dizer? Não sei se você está aí, namorando/amando à anos e nada te abala, mas PRA MIM, amar é chato. Ta, eu amo meus pais e meus amigos. E fim. Mas amar alguém assim, quando você descobre que a pessoa tem tudo a ver com você, é chato. Porque a pesar de tudo, as vidas são diferentes. Nada disso de falar que dá pra viver em função de alguém e essa pessoa em função de você, porque não dá, meu amigo. Simplesmente não dá. Cada um tem sua perspectiva de vida, cada um tem suas vontades. Até casando é assim. Se a mulher quer uma filha, o cara quer um filho. E se tem um filho, a mulher quer que ele se chame ADERBAL e o cara quer colocar TAVARES. Ninguém se iguala ao ponto de não discutir por algo. E sabe, eu não gosto de discutir. 

Ok, estou num momento de revolta, achando que nada nunca dá certo pra mim. Nem se eu começar a me amar, eu vou me entender e eu e eu vamos discutir e nada mais será como antes. É isso. Revoltada. Eu queria que amor fosse legal, até porque estar com alguém é legal até certo ponto (deixemos isso claro), carinho pra lá, “meu amor” pra cá. Olha que lindo (só que não). Sexo é legal! FAÇA SEXO, NÃO FAÇA AMOR. Amar consome a gente, cansa se não for correspondido. E cansa ainda mais se for. Tudo cansa. A gente ama, é tudo lindo como verão, maravilhoso como milho cozido com margarina, até que chega a hora do ciúme, da briga, do “quero fazer isso” contra o “eu não quero fazer isso agora”. Generalizo SIM. Briga existe em todo relacionamento. E não me venha com “meus avós fizeram bodas de ouro e nunca brigaram.” SEU CÚ. MENTIRA.

Só gostaria de deixar uma coisa bem clara: não sou uma pessoa de gênio forte, que briga por qualquer coisa e depois se derrete em lágrimas de arrependimento. Sou normal, só defendo o que acredito e se não tenho opinião formada, o silencio é sempre o fiel companheiro. Só não quero gostar, apaixonar e amar sabendo que com o tempo as coisas vão deixar de ser tão parecidas assim entre os dois. Eu sei que não dá pra ser feliz sozinho, mas deixa eu acreditar que dá, por enquanto. Pode ser que daqui a algum tempo eu mude um pouco de ideia e descubra que eu sou a maior sortuda do mundo e encontro alguém pra fazer bodas de ouro sem nunca ter divergências.... até porque, essa pessoa vai ter que entender, assim como eu, que brigar nunca resolve nada.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Aviso da Lua que Menstrua

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro, transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas. Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe: VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha... ora, não ofende. Enaltece, elogia: comparando rainha com rainha óvulo, ovo e leite pensando que está agredindo que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem. Tá citando o princípio do mundo!

Elisa Lucinda

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Amor que Choveu

Era uma vez uma menina que amava demais. Amava tanto, que o amor nem cabia dentro dela. Saía pelos olhos, brilhando, pela boca, cantando, pelas pernas, tremento, pelas mãos, suando. (Só pelo umbigo é que não saía: o nó ali é tão bem dado que nunca houve um só que tenha soltado). A menina sabia que o único jeito de resolver a questão era dando o amor ao menino que ela amava. Mas como saber o que ele achava dela? Na escola, tenha umas 300 meninas, na cidade umas 400.000, no mundo, vai saber, umas 2 milhões? Como é que ia acontecer de o menino se apaixonar justo por ela, que tinha se apaixonado por ele? A menina tentou trancar o amor em uma mala, mas não tinha como: nem sentando em cima o zíper fechava. Resolveu então congelar, mas era tão quente o amor, que fundiu o freezer, queimou a tomada, derrubou a energia da casa, do quarteirão e logo a menina saiu andando pela cidade escura - só ela brilhando nas ruas, deixando pegadas de All Star por onde pisava. "O que é que eu faço?" - perguntou ao prefeito, à amiga, ao doutor, e a um pessoalzinho que passava a vida sentado em frente ao posto de gasolina. "Fala pra ele!" - diziam todos, sem pensar duas vezes, mas ela não tinha coragem! E se ele não a amasse? E se não aceitasse todo o amor que ela tinha pra dar? Ela ia murchar que nem uva passa, explodir como bexiga e chorar até 31 de dezembro de 2078. Tomou então a decisão: iria atirar seu amor ao mar. Um polvo que se agarrasse a ele - se tem 8 braços para os abraços, por que não 4 corações para suas paixões? Ela é que não dava conta, era só uma menina, com apenas 2 mãos e o maior sentimento do mundo. Foi até a beira da praia e, sem pensar duas vezes, jogou. O que a menina não sabia era que seu amor era maior que o mar. E o amor da menina fez o oceano evaporar. Ela chorou, chorou e chorou pela morte do mar e de seu grande amor. Até que sentiu uma gota na ponta do nariz. Depois outra, na orelha e mais outra, no dedão do pé. Era o mar, misturado ao amor da menina, que chovia do Saara a Belém, de Meca a Jerusalém. Choveu tanto que acabou molhando o menino que a menina amava. E assim que a água tocou na sua língua, ele saiu correndo para a praia, pois já fazia meses que sentia o mesmo gosto, o gosto de uma amor tão grande, mas tão grande, que já não cabia dentro dele.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Não sei se cada um tem um destino, ou só se flutuamos sem rumo como numa brisa...mas acho que talvez sejam ambas as coisas. Talvez as duas coisas aconteçam ao mesmo tempo."


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Ok leitores (se é que vocês existem), eu odeio clichês, mas dessa vez admito que li uma bela verdade no meio de tantos compartilhamentos "desnecessários" no facebook.
Então lá vai:

"Case-se com alguém que você gosta de conversar... 
Porque quando o tempo for seu inimigo, e as linhas de expressão dominarem sua face e sua vitalidade não for como você gostaria, tudo que restará será bons momentos de conversa com alguém que viver com você muitas histórias, que segurou as suas mãos inúmeras vezes, que lhe abraçou quando sabia que precisava e que lhe falou a palavra no tempo certo.
Vai se lembrar ao longo da vida dos momentos felizes, engraçados, apaixonados e vocês ainda vão rir muito juntos.
Então lembre-se que a beleza passa, pois é vã. Mas o carinho, o respeito, o conhecimento, estes aumentam a cada dia.
Então case-se com alguém com quem realmente você gosta de conversar, porque ao longo dos anos, isso fará toda a diferença..."





Eu concordo em gênero, número e grau.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sobre dons

"He was born to be a rock star." - Sugar Kane


Sobre dons - Por Aline André, a Tandy

Acho que todos nós, desde pequeninos, apresentamos habilidades. Eu por exemplo sabia chorar como ninguém, uma bela sinfonia. Cresci um pouco e comecei a apresentar a habilidade de construir casas com embalagens de pasta de dente ou caixas de fósforo. Meu pai falava que eu seria arquiteta. Alguns anos depois comecei a inventar dentes nas bonecas e extraí-los. Meu pai achava que eu seria dentista.Houve também uma época em que eu fazia roupas de bonecas com retalhos das costuras da minha mãe, ela por sua vez, achava que eu seria estilista. Os anos se passaram e então, no ensino fundamental, chegou a fase em que eu mesma previa meu futuro. Como amava as aulas de português, pensava em hipóteses como ser professora, ajudando a formular aqueles tantos exercícios dos livros, ou aquela que por vezes ainda passa por aqui: ser escritora. O problema dessa época foram as "pessoas grandes". Elas quase nunca te incentivam a ser algo que no futuro não renda muito dinheiro. Elas dizem que medicina é uma boa área, que engenharia é uma maravilha divina, ou quem sabe você não se interesse pela psicologia? E então elas te confundem. Te sufocam. Quando cheguei ao ensino médio, a habilidade com caixinhas de pasta de dente haviam ficado na ferrugem das tesouras sem ponta, as bonecas e suas roupas ficaram nas gavetas, e a vontade de ser professora se perdeu em meio a aula em que a Maria Zélia chorou por não conseguir controlar os alunos que gritavam. Já os conselhos das pessoas grandes... bem, esses eu fiz questão de esquecer para aproveitar despreocupadamente a minha bela e adorável adolescência. Na escola técnica, fiz uma escolha que não fez muita diferença na minha vida: o curso técnico de farmácia. O ensino de péssima qualidade não ajudou e aos 17 anos e último ano de técnico, fiz amizades que digamos, não foram uma boa influência: matei muitas aulas, ignorei muitos professores e terminei o curso "pelas cochas". Mas essas mesmas amizades me fizeram crescer como pessoa, aprender a aproveitar o bom da vida enquanto é tempo e principalmente acreditar nos meus sonhos. Mas... qual eram mesmo os sonhos?! Na época de prestar vestibular, eu definitivamente não sabia o que fazer. Busquei então no fundo da alma, o que eu mais desejaria pra mim e confesso que, encontrando tantas alternativas, fiquei feliz por saber que poucas foram as influências externas, e que, independente do que eu prestasse, eu tentaria, estudaria e alcançaria a habilidade que tanto procurei e procuro até hoje. Todos nós temos dons. Mas o maior dom é poder viver e ser livre para sermos o que quisermos e sonharmos. Livres para experimentar um pouco de cada, até escolher o que nos tornaremos pro resto de nossas vidas.

Essa é uma história de uma pessoa que até hoje só escolheu ser confusa.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Doce frio do inverno

Eu me esqueci de você, larguei pra lá a saudade incomodando, decidi por não acompanhar mais as músicas doces que nós não dançamos, deixei o beijo doce fora da boca, retardei a morte das estrelas para começar a escrever sobre porque não escrever sobre você. Você jamais entenderia, ou entenderia errado tudo que eu te dissesse. Entenderia errado se eu te dissesse que é importante pra mim, não de maneira superficial, banalizada, mas feito flor colorida que se vê no meio do branco do inverno. Você pra mim é o doce frio do inferno. Você entenderia errada qualquer música que eu tocasse e tivesse seu nome, exageraria meus motivos para falar de você e ficaria envergonhado com um gesto sincero de carinho. Eu pensei em começar a descrever você pelos defeitos, só pra te provocar. Diria para todo mundo como não gosta de se ver, tem problema em se auto-afirmar, não ficava bem suéter e se sente livre, mas desajeitado de moletom. Você é aquele menininho da mamãe que ouve histórias e se encanta pelas pessoas. Mas não deixa que ninguém perceba. Eu diria pra você que estou contigo nesse momento que está todo despedaçado, eu te junto as peças, eu recolho seus cacos, eu pego com o balde as goteiras dos seus olhos. Não deixo você sair daqui do nosso abraço quente. Prometo que fico quieta quando estiver fingindo estudar e te canto uma música doce. Não, eu não vou escrever isso pra você, isso pra ti é poético demais, você gosta que te pegue, que te morda, que te cuide, mas também maltrate. Então saiba claramente que suas máscaras todas esparramadas não revelam nada de ti. Você é diferente, despenteado, despreparado para a vida e para o amor. Para qualquer amor que eu tentei tantas vezes te dar. Pronto, está aí, você entendendo errado qualquer sussurro meu. E eu prometo que chegarei mais perto, te direi algo mais claro, dessa vez eu serei concreta, pararei de poetizar. Na frase seguinte a essa eu direi sobre o melhor do que você me provoca e direi claramente sobre os meus sentimentos, quando a próxima frase começar, eu rasgarei qualquer distância, eu destruirei ou construirei proximidades, na próxima frase depois dessa eu deixarei você desbotado petrificado estarrecido, então lá vai: Eu não amo você, mas certa vez eu quis. E você me deixou do lado de fora. Sabe, outro dia eu vi uma rua toda vazia e um rapaz rindo sozinho e falando no telefone e lembrei de uma vez que você me ligou de madrugada e eu estava em casa e tinha acabado de brigar com meu irmão, e você me fez rir, me perguntou como era meu quarto, disse que um dia queria conhecê-lo, riu e deixou pra lá. Lembrei de um outro dia faz um tempo, a gente lá naquele lugar de sempre, conversando sobre o quanto a gente tinha mudado, ou todas as nossas concepções tinham mudado e a gente riu junto. Entendeu? Outro dia a gente ria da nossa extrema distância, do frio vazio da madrugada e dos nossos mundos diferentes, mas foi o mundo que mudou a gente e ali estávamos, os dois rindo da nossa extrema proximidade. Nós nos abraçamos de verdade, nós aprendemos a ser amigos de verdade e eu te quero bem, como te queria bem quando éramos dois estranhos. Não sei quando foi, mas eu me esqueci de você, deixei a saudade me incomodar e decidi por não ouvir mais as músicas doces que nós não dançamos, deixei o beijo doce fora da boca, retardei a morte das estrelas para começar a escrever sobre porque não escrever sobre você. Você jamais entenderia, ou entenderia tudo errado o que eu te dissesse. Entenderia errado se eu te dissesse que é importante pra mim, não de maneira superficial, banalizada, mas feito flor colorida que se vê no meio do branco do inverno. Você pra mim é o doce calor do inferno. E alguma voz que diz lá dentro de mim quanto futuro nós temos para nos reconhecermos repetidamente. E mais uma vez. Não importa o quanto eu tenha que esperar.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Vida

Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. O trator da felicidade. Atropelei o mundo e eu mesma. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Ninguém dá conta e… quer saber? Nem eu. Chega. Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio. I don’t care.

domingo, 15 de abril de 2012

Insetos Interiores

Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.

A futilidade encarrega se de "mais tralos'.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, "infértebrados".
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se


A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores.

O TEATRO MÁGICO

quarta-feira, 11 de abril de 2012

INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"

Mário Quintana

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sobre quando a saudade dói

Costumamos sentir saudade de coisas/momentos que nos fazem bem: o 1º namorado, uma noite com os amigos, os amigos, dias de sol, dias em que morremos de rir; É difícil lembrar de tudo que faz falta... se eu fosse fazer uma lista, gastaria todos os papéis do mundo escrevendo nomes, objetos, citando momentos e repetindo algumas coisas (porque fazem mais falta dos que as outras). Quando percebo que estou vivendo um momento muito feliz, procuro aproveitar ao máximo, porque sei que vai passar. E passa. E aí eu sinto saudade. Às vezes é bem legal sentir saudade... você se pega contando pro amigo mais próximo sobre o dia em que você se meteu em uma cilada no parque da sua cidade e morre de rir depois, e pensa “ai ai, velhos tempos, que saudade, parece que foi ontem...”. Assim é legal. Mas e quando a saudade dói? Quando perdemos alguém que amamos, como há um tempo perdi meu primo Geovane, a saudade dói demais, é um aperto no peito sufocante, querendo dizer que se ele não tivesse partido, talvez eu poderia ter mais motivos pra sentir saudade, e bons motivos.
Mas depois das lágrimas a gente acaba de conformando com a morte, e lembrando que devemos nos acostumar com ela. Saudade de quem morreu dói. Não é engraçado. Mas acho que o que é menos engraçado e o que mais dói, não é sentir saudade de quem morreu, é sentir saudade de uma pessoa, que você sabe que pra ela, você morreu d euma certa forma. E morreu sem motivos. Eu tenho saudade de uma pessoa que me matou. Porque essa pessoa me fez feliz, me proporcionou momentos inigualáveis, me conheceu mais do que a mim mesma, me deu todos os motivos para rir quando eu sentisse saudade, mas no fim, me matou. Tentei lembrar-lhe várias vezes de tudo que vivermos e tentar entender porque ele não se importa. Mas é triste mendigar recordações de alguém.
Finalmente, acho que morrer para alguém é como sentir saudade de quem morreu: o tempo passa, dói, mas você acaba se conformando com esse ciclo e no fundo no fundo sente que um dia vocês se encontrarão novamente.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O Dia Em Que A Terra Parou

_ É greve!
_ Não faça isso!
_ Já fiz. Cruzo meus braços!
_ E quem é que vai cuidar de tudo? Seu trabalho é muito importante.
_ Se acham importante, deviam valorizar. Só lembram de mim quando a coisa aperta. Aí eles vêm pedir ajuda, de joelhos, chorando.
_ Isso aí é verdade...
_ Viu só no último domingo? O jogo do São Paulo tava lotado. O show daquela loirinha, que faz playback: fila na porta. E nas igrejas? Meia dúzia de velhotas rezando o terço. Já mandei dilúvio: não me ouviram. Enviei meu filho: nada. Agora quero ver como é que vão fazer.
Dito isso, Deus pegou sua esteira de palha, estendeu sobre uma nuvem mais jeitosa e foi tomar sol, coisa que não fazia desde aquele primeiro domingo, depois da criação.
Quem se deu conta de que alguma coisa estava errada foi Dona Gertrudes, em Santa Rita do Passa Quatro. Quando mais aumentava o fogo, mais frio ficava o leite. Até que a mulher, prática, abriu a geladeira: quase queimou a barriga. Enquanto esperava o leite ferver, no congelador, pensou que alguma coisa realmente grave estava acontecendo.
Em Helsinque, na Finlândia, os cientista debatiam na TV enquanto o povo ia pras ruas, ver o sol azul. Em Buenos Aires, os pires começavam a cair pra cima (as xícaras, misteriosamente, continuaram apoiadas na mesa). Em São Paulo, carros atolaram nos paralelepípedos, que tomaram a consistência de marias-moles. Já as marias-moles, duras como pedras, quebravam os dentes de mais de um desavisado.
O açúcar salgou e o sal adoçou. Água secou e toalha molhou. Beijo doeu, tapa afagou. Cachorro piou, passarinho latiu e um gato em Lisboa fez um discurso inflamado sobre as sardinhas e o expressionismo búlgaro.
São Pedro, desesperado, tentava convecer Deus a retomar suas atividades. Ele, no entanto, estava contentíssimo, lagarteando sobre aquela nuvem.
_ Não volto, Pedro. Tô muito velho pra ficar salvando gato de atropelamento e tirando bola de cima da linha em final de campeonato.
_ Mas, então, o que é que você vai fazer?
Com um sorriso sereno, Deus assoprou. Um vendaval levou a Terra embora, e não sobrou gente, planta ou galinha para contar a história.
_Não fica assim não, meu amigo. Semana que vem eu faço outra, igualzinha, retomo de onde parei e ninguém vai nem de se dar conta de nada.
Então Deus deitou de bruços, sentiu o calor acariciando suas costas e ficou feliz da vida por ter criado o Sol, antes de todas as coisas.