quinta-feira, 26 de abril de 2012

Vida

Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. O trator da felicidade. Atropelei o mundo e eu mesma. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Ninguém dá conta e… quer saber? Nem eu. Chega. Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio. I don’t care.

domingo, 15 de abril de 2012

Insetos Interiores

Notas de um observador:

Existem milhões de insetos almáticos.
Alguns rastejam, outros poucos correm.
A maioria prefere não se mexer.
Grandes e pequenos.
Redondos e triangulares,
de qualquer forma são todos quadrados.
Ovários, oriundos de variadas raízes radicais.
Ramificações da célula rainha.
Desprovidos de asas,
não voam nem nadam.
Possuem vida, mas não sabem.
Duvidam do corpo,
queimam seus filmes e suas floras.
Para eles, tudo é capaz de ser impossível.
Alimentam-se de nós, nossa paz e ciência.
Regurgitam assuntos e sintomas.
Avoam e bebericam sobre as fezes.
Descansam sobre a carniça,
repousam-se no lodo,
lactobacilos vomitados sonhando espermatozóides que não são.
Assim são os insetos interiores.

A futilidade encarrega se de "mais tralos'.
São inóspitos, nocivos, poluentes.
Abusam da própria miséria intelectual,
das mazelas vizinhas, do câncer e da raiva alheia.
O veneno se refugia no espelho do armário.
Antes do sono, o beijo de boa noite.
Antes da insônia, a benção.

Arriscam a partilha do tecido que nunca se dissipa.
A família.
São soníferos, chagas sem curas.
Não reproduzem, são inférteis, infiéis, "infértebrados".
Arrancam as cabeças de suas fêmeas,
Cortam os troncos,
Urinam nos rios e nas somas dos desagravos, greves e desapegos.
Esquecem-se de si.
Pontuam-se


A cria que se crie, a dona que se dane.
Os insetos interiores proliferam-se assim:
Na morte e na merda.

Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores.

O TEATRO MÁGICO

quarta-feira, 11 de abril de 2012

INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO

Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"

Mário Quintana

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Sobre quando a saudade dói

Costumamos sentir saudade de coisas/momentos que nos fazem bem: o 1º namorado, uma noite com os amigos, os amigos, dias de sol, dias em que morremos de rir; É difícil lembrar de tudo que faz falta... se eu fosse fazer uma lista, gastaria todos os papéis do mundo escrevendo nomes, objetos, citando momentos e repetindo algumas coisas (porque fazem mais falta dos que as outras). Quando percebo que estou vivendo um momento muito feliz, procuro aproveitar ao máximo, porque sei que vai passar. E passa. E aí eu sinto saudade. Às vezes é bem legal sentir saudade... você se pega contando pro amigo mais próximo sobre o dia em que você se meteu em uma cilada no parque da sua cidade e morre de rir depois, e pensa “ai ai, velhos tempos, que saudade, parece que foi ontem...”. Assim é legal. Mas e quando a saudade dói? Quando perdemos alguém que amamos, como há um tempo perdi meu primo Geovane, a saudade dói demais, é um aperto no peito sufocante, querendo dizer que se ele não tivesse partido, talvez eu poderia ter mais motivos pra sentir saudade, e bons motivos.
Mas depois das lágrimas a gente acaba de conformando com a morte, e lembrando que devemos nos acostumar com ela. Saudade de quem morreu dói. Não é engraçado. Mas acho que o que é menos engraçado e o que mais dói, não é sentir saudade de quem morreu, é sentir saudade de uma pessoa, que você sabe que pra ela, você morreu d euma certa forma. E morreu sem motivos. Eu tenho saudade de uma pessoa que me matou. Porque essa pessoa me fez feliz, me proporcionou momentos inigualáveis, me conheceu mais do que a mim mesma, me deu todos os motivos para rir quando eu sentisse saudade, mas no fim, me matou. Tentei lembrar-lhe várias vezes de tudo que vivermos e tentar entender porque ele não se importa. Mas é triste mendigar recordações de alguém.
Finalmente, acho que morrer para alguém é como sentir saudade de quem morreu: o tempo passa, dói, mas você acaba se conformando com esse ciclo e no fundo no fundo sente que um dia vocês se encontrarão novamente.