quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Universidade Federal de Ouro Planeta

"Do lado de cá eu vivo tranquila e o meu corpo dança sem parar
Do lado de cá tem música, amigos e alguém para amar..."

Foram quase cinco anos. 

Cinco anos decifrando as ladeiras dessa cidade tão carregada de mistério e me perdendo e me encontrando dentro das minhas próprias ladeiras. Cheguei para cursar a tão sonhada Universidade Federal. Cheguei para "finalmente" sair de casa. Cheguei menina ainda, com uma mala de roupas e uma caixa de suprimentos alimentares. Cheguei de moletom, tênis e travesseiro. Precisei tirar coragem do fundo da alma pra enfrentar cada novo obstáculo e cada novo olhar. Fiz amigos. Ri até a barriga doer. Aprendi o que é conviver. Dividi sofá, cama, guarda-roupa e alegrias. Aprendi a não ter hora pra voltar pra casa. A ter cuidado. A pedir mais uma rodada. Tive que enfrentar o mofo com antialérgicos e chás de alho. Enfrentei o medo ao não mostrar o que sinto. Enfrentei também a neblina, a chuva e o sol, todos em um só dia. Perdi a hora, a matéria, perdi amores. Ganhei mais um minuto, conhecimento e paixões. Ganhei um novo nome, um novo jeito, uma nova personalidade. Eu vi filmes de terror, de comédia, de romance. Li ficção, aventura e quadrinhos. Chorei lágrimas de saudade. Aprendi a lavar roupa, banheiro e varanda. Entendi que a República Serena não era só uma casa para dividir contas e sim uma família para cuidar e cultivar sempre. Liguei pra minha mãe, pro meu pai e pros amigos então distantes. Amei todos que deixei pra trás, inclusive quem também me deixou. Amei os que tinha por perto e os que se faziam sempre presentes. Abracei forte. Olhei nos olhos e desviei olhares. Dormi sem ter hora pra acordar. Dormi só uma hora pra descansar. Não dormi...


Entendi o que é passar vontade e o que é saciar uma vontade. Liguei chorando e pedindo pra voltar. Liguei sorrindo dizendo que tudo ia bem. Amei amores inexplicáveis e vi muita coisa maluca por aí. Me distraí. Me concentrei. Me amei e me odiei. Lidei com a mais  silenciosa solidão e com a multidão tumultuada. Vi e revi valores. Extravagâncias e minimalismos. Vivi cada segundo, pedindo para que a noite não terminasse. Me frustrei cada minuto, implorando para que tudo se acabasse logo. Convivi e me deparei com o máximo e o mínimo de mim e dos que escolhi para estar junto. Amei e odiei pessoas. Entendi com o passar do tempo que crescer dói, mas que é inevitável fazê-lo. Aprendi que devo e posso dar cada passo com um sorriso no rosto, de peito aberto e cabeça erguida. Que nem sempre o tempo cura de verdade e que é preciso muito tempo para entender isso. Me superei e sorri para coisas que só eu compreendia. Ouvi desabafos e desabafei. Estudei, escrevi, cozinhei, dancei e cantei. Comi e bebi coisas pela primeira vez, ouvi músicas novas, experimentei sensações que até então só ouvia falar e conversei com pessoas de todos os lugares do mundo. Trabalhei e tive a indescritível sensação de pagar com meu próprio dinheiro e de finalmente dar o valor correto ao que me foi dado até então.
Entendi que só quando temos nossos pais longe é que os valorizamos verdadeiramente. O amor é o mesmo, mas o valor é inestimável e o crescimento doloroso sem eles por perto. (Aliás, pai e mãe, muito obrigada por tudo!)


Durante quase cinco anos eu aprendi, definitivamente, que a felicidade não é um lugar a se chegar e sim um caminho a percorrer. Que amar é fantástico e sofrer, muitas vezes inevitável. Que é preciso dar valor ao que sou e ao que faço por mim antes de me arriscar em fazer algo por alguém que penso gostar. E é preciso também muita coragem para cuidar de alguém e demonstrar sentimentos verdadeiros.

Hoje, mais uma vez precisarei deixar pra trás coisas que construí, pessoas que conquistei e lugares que me encantei para partir em busca de mais uma jornada.
Ouro Preto deixará uma saudade imensurável e a certeza de que voltarei sempre de coração aberto.
A gratidão por essa cidade e por todas as pessoas que passaram pelo meu caminho transparecerá a cada novo passo dado e a cada obstáculo enfrentado.
Nem tudo foram ou serão flores, mas continuarei regando o meu jardim da melhor maneira possível.

Muito obrigada Ouro Preto, por fazer da minha, mais uma história prazerosa de se ouvir e de se contar.

"Cuide de quem corre do seu lado e de quem te quer bem, essa é a coisa mais pura!"


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Na gaveta

Em meio ao caos da minha última mudança encontrei uma carta que te escrevi há mais ou menos três anos atrás. Fiquei me perguntando se teria feito diferença a entrega. Eu costumo gostar que leiam tudo o que escrevo. Mas aquela, ah! Aquela  carta não podia ser vista por ninguém... já pensou se alguém descobre que eu estava começando a me apaixonar?! Jamais! Precisava manter minha pose de durona e ainda tenho tal necessidade. Mas sabe de uma coisa? Eu gostaria muito de estar vivendo os planos que fiz naquela carta. Não eram planos muito complexos não. Só queria pegar na sua mão, sorrir e conversar sobre assuntos bestas em noites de domingo. Era bem simples até. Eu fico me perguntando se fez diferença ter escondido tudo de você. Não ter aberto o jogo na hora certa e ainda disfarçar até hoje quando deixo meu olhar se demorar sobre você. Fico me perguntando se teríamos sido melhores do que fomos e ainda somos. 

Sabe, ontem eu senti esperança de novo. Esperança de mudar, de sair do lugar, de encarar o novo. Mas aí eu percebi que, em muitas noites, quando eu te encontrava, eu sentia isso. Eu tive mesmo muitos dias de esperança em ter você mais perto e de um modo diferente. Mas o tempo passou. As coisas estão mudando com uma certa velocidade e nós nunca saberemos ao certo o que a vida nos reserva, não é verdade? Queria voltar à aquela carta e tentar viver todos aqueles planos, rapaz. Queria te mostrar como minhas intenções eram legais. Como poderíamos ter vivido grandes momentos nos olhando outra forma.

Hoje, o que eu quero mesmo é tentar ser feliz comigo. Percebo que não há felicidade sem auto aceitação. Tenho lido bastante, como você bem sabe. Vejo filmes e ouço as músicas que mais agradam meus ouvidos. Gostaria de contar que tenho vivido bons momentos com a minha própria pessoa mas que, se ainda der tempo, te aceito aqui do lado.

A carta ficou na gaveta, ainda sem perspectiva de entrega (quem sabe se você pedir com jeito?). Os planos com você estão lá também. Minha mala está pronta e minha alma inquieta por mudança. Faz um trato comigo? Se eu tiver que partir, não deixa o que sinto por você ficar aqui. Faça com que eu o leve comigo aonde for. E assim, quando a vida nos fizer o favor de organizar as coisas, nós seremos felizes. Como amigos, como amantes, como meros conhecidos. Não importa... Com tanto que não fiquemos na gaveta como aquela carta brega que um dia eu te escrevi.


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

My Wish [Book] List

Falta menos de um mês para o meu aniversário (16/14) eu tenho uma pequena e humilde lista de desejos (mesmo que nem metade vá se realizar)! Livros, livros e mais livros. Alguns eu me darei de presente, outros eu vou pedir humildemente aos meus queridos amigos haha. Vamos ao meu pequeno acervo desejável e recomendável:


Dr. Sono - Stephen King - Mais de trinta anos depois, Stephen King revela a seus leitores o que aconteceu a Danny Torrance, o garoto no centro de O Iluminado, depois de sua terrível experiência no Overlook Hotel. MAL POSSO ESPERAR *-*

Morte Súbita - J.K. Rowling - O livro se passa em um vilarejo fictício da Inglaterra, Pagford. Já no início do livro Barry Fairbrother um integrante do concelho do vilarejo e uma pessoa muito querida por todos- morre, essa "morte súbita" muda completamente o cotidiano dos cidadãos. Já que o falecido deixou uma vacância (vaga) no concelho do vilarejo...

Garota Exemplar - Gillian Flynn - O livro começa no dia do quinto aniversário de casamento de Nick e Amy Dunne, quando a linda e inteligente esposa de Nick desaparece da casa deles às margens do rio Mississippi. Sinais indicam que se trata de um sequestro violento e Nick rapidamente se torna o principal suspeito... 

As Intermitências da Morte - José Saramago - "Não há nada no mundo mais nu que um esqueleto", escreve José Saramago diante da representação tradicional da morte. Só mesmo um grande romancista para desnudar ainda mais a terrível figura. Apesar da fatalidade, a morte também tem seus caprichos. LOUCA POR ESSE LIVRO, APENAS.

Meio Intelectual, Meio de Esquerda - Antônio Prata - Um sofá encalhado no mangue, uma coifa uruguaia, os trocadilhos nos nomes dos pet shops, o bairro de Perdizes, o jogador Ronaldo, os mictórios cheios de gelo dos restaurantes, o salto mortal sem rede que o amor exige dos apaixonados, a casa de um morador de rua, um sorvete de cheesecake, o barulho das marretadas de um apartamento em reforma - eis alguns dos temas de Meio Intelectual, Meio de Esquerda, o livro de crônicas de Antonio Prata. 

O Inferno Atrás da Pia - Antônio Prata (DE NOVO) - Nos contos selecionados aqui, Antonio associa o culto ao deboche com uma peculiar aptidão para olhar tudo, sem pressa ou juízo de valor. Existem momentos em que a leitura proporciona situações impagáveis como em "Melda!" quando uma simples festinha de aniversário de criança pode acabar se tornando palco do desvirginamento de um adolescente fã de heavy metal. MEU AUTOR FAVORITO! 

Contos de Mentira - Luisa Geisler - Em Contos de Mentira, a autora usa uma linguagem ágil, cortada com economia e precisão, para colocar em exposição os sentimentos humanos. São pequenas e densas histórias, que retratam o ser humano sozinho, acompanhado apenas de sua incompletude. TEMPÃO QUE QUERO ESSE TROÇO. Além de Quiçá e Luzes de Emergência Se Acenderão Automaticamente 

Extraordinário - R. J. Palacio - R. J. Palacio criou uma história edificante, repleta de amor e esperança, em que um grupo de pessoas luta para espalhar compaixão, aceitação e gentileza. Narrado da perspectiva de Auggie e também de seus familiares e amigos, com momentos comoventes e outros descontraídos.

O Diário de Anne Frank - Ok, eu já li esse livro umas duas vezes quando era mais nova. Adoro. Mas nunca tive um... e gostaria muito ter na minha estante. "O relato dramático que já emocionou milhões de pessoas em todo o mundo ganha novos capítulos. O Diário de Anne Frank, escrito pela jovem judia ao longo dos dois anos que viveu escondida durante a Segunda Guerra Mundial. "

O Cemitério - King novamente. "Louis Creed, um jovem médico de Chicago, acredita que encontrou seu lugar naquela pequena cidade do Maine. A boa casa, o trabalho na universidade, a felicidade da esposa e dos filhos lhe trazem a certeza de que fez a melhor escolha. Num dos primeiros passeios familiares para explorar a região, conhecem um cemitério no bosque próximo a sua casa. Ali, gerações e gerações de crianças enterraram seus animais de estimação."

[Coleção] Desventuras em Série - Eu posso querer MUITO, MUITO, MUITO esse box super maravilhoso? Posso! Mas se não rolar, posso ao menos querer o Primeiro Livro, né? :P

[Coleção] A Torre Negra - Stephen King - Apontada como a mais importante obra do cultuado escritor norte-americano Stephen King, a série A Torre Negra foi descrita por seu autor como "o mais longo romance popular de todos os tempos". *o* *o*

[Coleção] The Walking Dead - Sou fã da série e curiosíssima pra ler os livros.

[Coleção] Como Treinar o Seu Dragão - A SÉRIE (que conta com 12 livros) "Como Treinar o Seu Dragão" é sucesso no mundo todo. Escritos e ilustrados pela inglesa Cressida Cowell, autora premiada de obras infantis e infantojuvenis, os livros convidam o leitor a embarcar em uma divertida aventura com o jovem Soluço Spantosicus Strondus III, a grande esperança e o herdeiro da Tribo dos Hooligans Cabeludos — um garoto, no entanto, sem qualquer talento para ser um grande guerreiro Viking.

[Coleção] 
Caixa Especial Martha Medeiros: Paixão, Felicidade, Liberdade, Crônica  - Os 20 anos de cronista de Martha Medeiros estão pontuados nestes 3 volumes com as melhores crônicas de sua carreira.

50 Contos de Machado de Assis - Um homem que tem o estranho prazer de torturar ratos, e encara a morte da mulher com a mesma satisfação; uma mulher tão obcecada em esconder a idade que impede a filha de se casar; um afortunado compositor de melodias populares que deseja desesperadamente escrever música clássica; um rapazinho de quinze anos que se deixa empolgar pela visão dos braços de uma mulher mais velha...

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Foi Engano?

"Não sei se cada um tem um destino ou se só flutuamos sem rumo, como numa brisa...mas acho que talvez sejam ambas as coisas. Talvez as duas coisas aconteçam ao mesmo tempo...”

Nunca atendo número privado. Sabe, né? Quando te ligam e teu telefone não identifica o número. Aparece simplesmente "Número Privado" e pronto. Pode ser alguém conhecido, mas também pode não ser. Então eu deixo pra lá e não atendo. Afinal, se for notícia boa, vão querer se identificar, não é mesmo? Mas naquele dia em especial, eu estava pra baixo. Acordei, vari a casa e nada me fazia lembrar que tenho uma vida pra viver. Sabe aquela sensação de "o que eu tô fazendo aqui?"?. Era isso. Aí o telefone tocou. Número Privado. A música me fez dançar e eu queria mesmo ouvir a voz de alguém. Então, alguma força maior me fez quebrar o protocolo pessoal e atender.

_ Alô? - atendi
_ Alô! Ana?! Ana... não desliga. - uma voz masculina. 
Era engano, claro. Eu não me chamo Ana. Mas por que não tentar uma brincadeira? Já que ele pediu pra não desligar, continuei. Como se me chamasse Ana mesmo.
_ Oi, pode falar. - permiti, sem alterar a voz
_ Me encontra. Vamos conversar. Precisamos conversar.
Quanto desespero, compadre! Pera lá! Apesar de estar me passando pela Ana, acho que eles não eram muito íntimos. Reconhecer a voz de uma pessoa pelo telefone é o mínimo de intimidade que se pode ter. E olha, parece que ele não é bom nisso.
_ Tá certo, cara. Te encontro. Onde? - perguntei
_ Na praça, perto do açougue.
Olha aí, já começou errado e deu mais uma mancada. Que pessoa em sã consciência dá um açougue como referência?! Que bizarrice.
_ Que horas? - encontros precisam de horários, mesmo que perto de um açougue
_ Amanhã às sete.
Sete. Sete da manhã ou sete da noite? Comecei a repensar o grau de intimidade. Se ele não especificou, é porque conhece o relógio biológico dela. Vai que ela só acorda cedo ou só pode sair à noite? Quando o número é de um a dez se tratando de horário, temos aí duas opções. 
_ Te vejo lá - encontro marcado.
_ Obrigado, linda. Você não vai se arrepender.
Desliguei sem me despedir. Depois pensei se fiz o certo. Mas pelo visto a "Ana" nem tava tão afim assim... já que passou um número que não é dela.
Ele não tentou ligar depois. Nem às sete da manhã e nem às sete da noite. Acho que o fato dela não ter comparecido ao encontro o fez perceber algo que eu nunca vou saber. Talvez tenha seguido em frente. É o que eu espero. 

De qualquer forma, isso foi um caso à parte. É melhor continuar evitando os números desconhecidos.


sábado, 8 de novembro de 2014

Microconto do Poeta Fracassado

_ Ontem me sentei com o caderno na mão. Mas tive um tremendo choque quando me dei conta de que não conseguiria escrever uma linha se quer. Que decepção. Depois de tantos amores relatados, aquele passará em branco. O que era pra ser uma gigante e triste poesia, virou poeira e se perdeu na luz do dia. 

_ Tem tristeza que não é pra relatar mesmo, senhor poeta. Deixa essa aí ir embora e parte pra outra. Esquece essas cicatrizes. A vida tem muita coisa boa pra ser relatada em prosas mais felizes.

sábado, 1 de novembro de 2014

Conto Não Contado

Em uma quinta-feira nublada ele se despediu. Resolveu ir embora com todas as palavras que jamais couberam na boca. Aquelas palavras que guardamos conosco, milhares, dentro da mente e do coração, mas que jamais se verbalizam, nem mesmo se transformam em atos. Muito menos isso. São aquelas palavras que, em dias de domingo, deitados na frente da TV sem prestarmos a menor atenção, formulamos, filtramos, repensamos, achamos sinônimos e antônimos, juntamo-las e criamos citações, textos, livros... mas então, na segunda, quando há tempo de jogá-las na mesa do almoço, desistimos de dizer. “Jamais entenderão” – argumentamos entrementes. E então, são elas que ficam ali, dentro de nós, vívidas como um feto, inquietas, cheias de razões e sentidos, mas que jamais nascem em meio ao “bom dia” rotineiro. Tão fácil dizer “bom dia”. Tão constrangedor dizer “eu te amo porque nascestes pra mim e eu para ti, e...” não, é difícil. E foram essas palavras que fizeram com que ele tivesse vontade de ir embora. “As tenho para mim como minhas, como autor célebre de mim, mas quando penso em pô-las na ponta da língua, elas se encaixam entre a garganta e o peito, em um lugar tão sombrio que dói, incomoda e faz uma terrível tranca na boca” - pensava ele com frequência. Frustrou-se ao perceber que não tinha controle sobre isso e que, para algumas pessoas, é fácil dizer o que pensa. Ele sentia inveja dos pedidos de namoro, dos filhos que dizem “eu te amo” aos pais e até mesmo dos debates políticos... “Se já é difícil dizer a verdade, mentir como eles me parece um dom” – pensava. E viveu assim, calado de pensamentos e de coragem, amando amores tão gigantes que cabiam perfeitamente entre a garganta e o peito, trancados e não verbalizados. E foi um desses amores que o fez dizer adeus naquela tarde, dentro do quarto de hotel. Porque ouvia que “atos falam mais do que palavras”, mas jamais concordou. Nunca concordaria. O aviso de “Não Perturbe” estava pendurado na porta havia tempo e então finalmente uma camareira que passava por ali, intrigada, resolveu bater à porta e perguntar se tudo estava bem. Apertou a campainha – um pouco estridente demais para um hotel – e aguardou. Não obteve resposta. Aflita após a quarta tentativa, chamou a gerência do estabelecimento. A governanta, já acostumada com determinadas situações, foi quem pressupôs o escândalo guardado ali antes mesmo da porta se abrir. A chave mestra deu duas voltas e revelou o corpo sob roupas de cama embebidas de sangue e suor, um buraco na cabeça e um revólver na mão. De uma forma dolorosa, mas ainda assim a que escolhera melhor, ele foi embora de vez, como sempre quis fazer, junto a todas as palavras que nunca disse.