segunda-feira, 13 de junho de 2016

Onde você estava?

“Sai de casa sempre assim que der
Mas sai sem esquecer que a sua casa é sempre aqui
Sair de casa é só pra quem quer
Pois a coragem anda a pé e vai te levar pra longe”

Onde você estava com a cabeça quando decidiu onde estaria agora? Nós não sabemos. Nós só sabemos que você estava feliz por vislumbrar um futuro, por ter descoberto meio que de repente, que você podia construir um caminho por conta própria.
Você quis tanto sair de casa, quis tanto trabalhar e se virar sozinha que acabou quase (veja bem, quase) se esquecendo de quem estava com você antes de você decidir tudo isso. Lembra quando estávamos do seu lado quando decidiu? Nós estávamos. Nós ainda estamos. Mas estamos do seu lado de um jeito que, bem... nem a gente mesmo entende. Porque não é bem do seu lado, assim, literalmente. Mas é do seu lado mais do que pra valer. Mais do que qualquer pessoa que está aí, grudada em você, pode estar um dia.
Onde você estava enquanto todo mundo crescia?
Sim, você estava crescendo também.
Onde você estava enquanto a sua melhor amiga levava um fora? Sim, você estava levando alguns foras sem ter ela por perto. Mas você ainda pode a chamar de amiga, não é mesmo?
Onde você estava quando seu primo faleceu? Sim, você estava tentando não falecer junto com a família, tentando se manter viva, tentando orar do jeito que dava. De um jeito torto, mas a gente entende o seu jeito.
Onde você estava quando seus tios fizeram uma festa surpresa para o caçula da família? E porque será que você não viu seus primos mais novos crescerem? Porque cada um teve sua vida, mas eles provavelmente nunca se esqueceram de você. E nem você deles.
Distância nem sempre significa ausência.
Lembra: quem cuida de você agora é só você mesma. Você não vai dormir na sala e acordar na sua cama porque ninguém pode fazer esse trajeto com você nos braços. Você não pode mais chegar em casa e sentir o cheirinho de feijão cozido porque, sabe né? Você é quem precisa cozinhar. Você não pode mais chegar em casa e se esconder no banheiro para chorar porquê dessa vez a sua casa está vazia. É só você nela. Você vai recorrer ao telefone porque agora você não está nem aí pra quem te vê chorando. Você só quer, mais do que tudo, chorar com alguém.
Então tenha força.
Não, você não vai conseguir voltar ao ponto de onde saiu. Agora é só para frente que se olha. Por favor, por favor mesmo, não desista. Não olhe para trás... ei, não! Você não vai conseguir entrar nas fotos pregadas na sua parede. Não vai conseguir desfazer todas as vezes que você entrou em um ônibus para ir embora. Você sabe que não pode. Agora não é hora de ir embora, é hora de chegar. É hora de entender a diferença entre sair e voltar para a vida das pessoas que ama. Você aprendeu o caminho, certo? Sabe bem os passos. Então chegue. Chegue por aqui sempre que der. Não precisa se apressar. Lembra que a gente tá do seu lado.
Nós sentimos a sua falta. E admitimos que sentimos até uma certa inveja de que tem a sua presença. De quem te vê todos os dias. Até do trocador do ônibus que nem sabe o seu nome. Mas ele tá aí, te vendo... caramba. Onde você está agora?
Certo, nós não sabemos, mas tentamos entender que, seja lá onde você estiver, você está tentando crescer.

Talvez esse seja o sentido do ciclo: todos temos que crescer um dia, todos temos que ir embora também. Para aprender a ver ir embora quem a gente quis e para sempre vai querer bem.