segunda-feira, 28 de maio de 2012

Sobre dons

"He was born to be a rock star." - Sugar Kane


Sobre dons - Por Aline André, a Tandy

Acho que todos nós, desde pequeninos, apresentamos habilidades. Eu por exemplo sabia chorar como ninguém, uma bela sinfonia. Cresci um pouco e comecei a apresentar a habilidade de construir casas com embalagens de pasta de dente ou caixas de fósforo. Meu pai falava que eu seria arquiteta. Alguns anos depois comecei a inventar dentes nas bonecas e extraí-los. Meu pai achava que eu seria dentista.Houve também uma época em que eu fazia roupas de bonecas com retalhos das costuras da minha mãe, ela por sua vez, achava que eu seria estilista. Os anos se passaram e então, no ensino fundamental, chegou a fase em que eu mesma previa meu futuro. Como amava as aulas de português, pensava em hipóteses como ser professora, ajudando a formular aqueles tantos exercícios dos livros, ou aquela que por vezes ainda passa por aqui: ser escritora. O problema dessa época foram as "pessoas grandes". Elas quase nunca te incentivam a ser algo que no futuro não renda muito dinheiro. Elas dizem que medicina é uma boa área, que engenharia é uma maravilha divina, ou quem sabe você não se interesse pela psicologia? E então elas te confundem. Te sufocam. Quando cheguei ao ensino médio, a habilidade com caixinhas de pasta de dente haviam ficado na ferrugem das tesouras sem ponta, as bonecas e suas roupas ficaram nas gavetas, e a vontade de ser professora se perdeu em meio a aula em que a Maria Zélia chorou por não conseguir controlar os alunos que gritavam. Já os conselhos das pessoas grandes... bem, esses eu fiz questão de esquecer para aproveitar despreocupadamente a minha bela e adorável adolescência. Na escola técnica, fiz uma escolha que não fez muita diferença na minha vida: o curso técnico de farmácia. O ensino de péssima qualidade não ajudou e aos 17 anos e último ano de técnico, fiz amizades que digamos, não foram uma boa influência: matei muitas aulas, ignorei muitos professores e terminei o curso "pelas cochas". Mas essas mesmas amizades me fizeram crescer como pessoa, aprender a aproveitar o bom da vida enquanto é tempo e principalmente acreditar nos meus sonhos. Mas... qual eram mesmo os sonhos?! Na época de prestar vestibular, eu definitivamente não sabia o que fazer. Busquei então no fundo da alma, o que eu mais desejaria pra mim e confesso que, encontrando tantas alternativas, fiquei feliz por saber que poucas foram as influências externas, e que, independente do que eu prestasse, eu tentaria, estudaria e alcançaria a habilidade que tanto procurei e procuro até hoje. Todos nós temos dons. Mas o maior dom é poder viver e ser livre para sermos o que quisermos e sonharmos. Livres para experimentar um pouco de cada, até escolher o que nos tornaremos pro resto de nossas vidas.

Essa é uma história de uma pessoa que até hoje só escolheu ser confusa.

Nenhum comentário: