sexta-feira, 4 de maio de 2012

Doce frio do inverno

Eu me esqueci de você, larguei pra lá a saudade incomodando, decidi por não acompanhar mais as músicas doces que nós não dançamos, deixei o beijo doce fora da boca, retardei a morte das estrelas para começar a escrever sobre porque não escrever sobre você. Você jamais entenderia, ou entenderia errado tudo que eu te dissesse. Entenderia errado se eu te dissesse que é importante pra mim, não de maneira superficial, banalizada, mas feito flor colorida que se vê no meio do branco do inverno. Você pra mim é o doce frio do inferno. Você entenderia errada qualquer música que eu tocasse e tivesse seu nome, exageraria meus motivos para falar de você e ficaria envergonhado com um gesto sincero de carinho. Eu pensei em começar a descrever você pelos defeitos, só pra te provocar. Diria para todo mundo como não gosta de se ver, tem problema em se auto-afirmar, não ficava bem suéter e se sente livre, mas desajeitado de moletom. Você é aquele menininho da mamãe que ouve histórias e se encanta pelas pessoas. Mas não deixa que ninguém perceba. Eu diria pra você que estou contigo nesse momento que está todo despedaçado, eu te junto as peças, eu recolho seus cacos, eu pego com o balde as goteiras dos seus olhos. Não deixo você sair daqui do nosso abraço quente. Prometo que fico quieta quando estiver fingindo estudar e te canto uma música doce. Não, eu não vou escrever isso pra você, isso pra ti é poético demais, você gosta que te pegue, que te morda, que te cuide, mas também maltrate. Então saiba claramente que suas máscaras todas esparramadas não revelam nada de ti. Você é diferente, despenteado, despreparado para a vida e para o amor. Para qualquer amor que eu tentei tantas vezes te dar. Pronto, está aí, você entendendo errado qualquer sussurro meu. E eu prometo que chegarei mais perto, te direi algo mais claro, dessa vez eu serei concreta, pararei de poetizar. Na frase seguinte a essa eu direi sobre o melhor do que você me provoca e direi claramente sobre os meus sentimentos, quando a próxima frase começar, eu rasgarei qualquer distância, eu destruirei ou construirei proximidades, na próxima frase depois dessa eu deixarei você desbotado petrificado estarrecido, então lá vai: Eu não amo você, mas certa vez eu quis. E você me deixou do lado de fora. Sabe, outro dia eu vi uma rua toda vazia e um rapaz rindo sozinho e falando no telefone e lembrei de uma vez que você me ligou de madrugada e eu estava em casa e tinha acabado de brigar com meu irmão, e você me fez rir, me perguntou como era meu quarto, disse que um dia queria conhecê-lo, riu e deixou pra lá. Lembrei de um outro dia faz um tempo, a gente lá naquele lugar de sempre, conversando sobre o quanto a gente tinha mudado, ou todas as nossas concepções tinham mudado e a gente riu junto. Entendeu? Outro dia a gente ria da nossa extrema distância, do frio vazio da madrugada e dos nossos mundos diferentes, mas foi o mundo que mudou a gente e ali estávamos, os dois rindo da nossa extrema proximidade. Nós nos abraçamos de verdade, nós aprendemos a ser amigos de verdade e eu te quero bem, como te queria bem quando éramos dois estranhos. Não sei quando foi, mas eu me esqueci de você, deixei a saudade me incomodar e decidi por não ouvir mais as músicas doces que nós não dançamos, deixei o beijo doce fora da boca, retardei a morte das estrelas para começar a escrever sobre porque não escrever sobre você. Você jamais entenderia, ou entenderia tudo errado o que eu te dissesse. Entenderia errado se eu te dissesse que é importante pra mim, não de maneira superficial, banalizada, mas feito flor colorida que se vê no meio do branco do inverno. Você pra mim é o doce calor do inferno. E alguma voz que diz lá dentro de mim quanto futuro nós temos para nos reconhecermos repetidamente. E mais uma vez. Não importa o quanto eu tenha que esperar.

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