quarta-feira, 25 de julho de 2012

O Amor que Choveu

Era uma vez uma menina que amava demais. Amava tanto, que o amor nem cabia dentro dela. Saía pelos olhos, brilhando, pela boca, cantando, pelas pernas, tremento, pelas mãos, suando. (Só pelo umbigo é que não saía: o nó ali é tão bem dado que nunca houve um só que tenha soltado). A menina sabia que o único jeito de resolver a questão era dando o amor ao menino que ela amava. Mas como saber o que ele achava dela? Na escola, tenha umas 300 meninas, na cidade umas 400.000, no mundo, vai saber, umas 2 milhões? Como é que ia acontecer de o menino se apaixonar justo por ela, que tinha se apaixonado por ele? A menina tentou trancar o amor em uma mala, mas não tinha como: nem sentando em cima o zíper fechava. Resolveu então congelar, mas era tão quente o amor, que fundiu o freezer, queimou a tomada, derrubou a energia da casa, do quarteirão e logo a menina saiu andando pela cidade escura - só ela brilhando nas ruas, deixando pegadas de All Star por onde pisava. "O que é que eu faço?" - perguntou ao prefeito, à amiga, ao doutor, e a um pessoalzinho que passava a vida sentado em frente ao posto de gasolina. "Fala pra ele!" - diziam todos, sem pensar duas vezes, mas ela não tinha coragem! E se ele não a amasse? E se não aceitasse todo o amor que ela tinha pra dar? Ela ia murchar que nem uva passa, explodir como bexiga e chorar até 31 de dezembro de 2078. Tomou então a decisão: iria atirar seu amor ao mar. Um polvo que se agarrasse a ele - se tem 8 braços para os abraços, por que não 4 corações para suas paixões? Ela é que não dava conta, era só uma menina, com apenas 2 mãos e o maior sentimento do mundo. Foi até a beira da praia e, sem pensar duas vezes, jogou. O que a menina não sabia era que seu amor era maior que o mar. E o amor da menina fez o oceano evaporar. Ela chorou, chorou e chorou pela morte do mar e de seu grande amor. Até que sentiu uma gota na ponta do nariz. Depois outra, na orelha e mais outra, no dedão do pé. Era o mar, misturado ao amor da menina, que chovia do Saara a Belém, de Meca a Jerusalém. Choveu tanto que acabou molhando o menino que a menina amava. E assim que a água tocou na sua língua, ele saiu correndo para a praia, pois já fazia meses que sentia o mesmo gosto, o gosto de uma amor tão grande, mas tão grande, que já não cabia dentro dele.


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