sexta-feira, 21 de março de 2014

Feliz Aniversário, Carol.

Já faziam uns três anos que Carolina tinha o diálogo em mente e tudo o que queria dizer anotado de várias formas, pensando como iria responder a cada diferente reação dele. Ela anotou de caneta vermelha no caderno de notas, digitou no computador, no celular, no iPad e repassou as falas durante o fim de semana. Ela precisava de um tempo pra ensaiar, ia dar certo! Ela realmente queria dizer aquilo. Estava engasgada, sufocada, doente até. Não dava mais. Olhava pro espelho do guarda-roupa e repetia ofegante:

"Sim! Eu gosto de você, Ramon!"

"Me dá uma chance de te fazer feliz!"

"Arruma suas malas aí, ô idiota! Vamos viajar para um lugar chamado felicidade."
(Nessa ela riu até a barriga doer e acabou riscando)

"Se toca que eu tô na tua, desgraçado!"

Se divertiu a noite inteira com a quantidade de merda que sua cabeça inventara em falar e adormeceu diante da janela aberta com a lua refletindo no lustre.
Acordou no dia seguinte com dor de estômago, foi ao banheiro, tomou o omeprazol em jejum e se lembrou de repente, como se nunca tivesse lembrado um dia, que aquela segunda-feira ensolarada era seu aniversário de 18 anos. E ela sabia que ele viria. A qualquer momento ele apareceria com algum pequeno embrulho contendo bombons ou algo barato que caiba no orçamento de um estudante. E ela diria tudo o que ensaiou.
Mas depois de tantas visitas e ligações, a única que importava não apareceu.
Ligou na casa dele às 23:30:
_ Dona Lúcia, oi, é a Carol. O Ramon tá por aí?
_ Minha querida! - respondeu a empregada com voz de choro - Sinto te informar, mas o Ramon faleceu hoje pela manhã, atropelado ao sair de casa. O velório será amanhã às sete.

Uma lágrima caiu. Depois outra. E mais uma.
E então, a partir daquele dia, ela entendeu que a vida não precisa de ensaios.


Nota: esta é uma crônica pré-adolescente escrita por uma pessoa que aos 22 anos de idade, só ensaia.

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