segunda-feira, 5 de maio de 2014

Quando tudo terminar

"Onde estiver, sabe que eu sempre estarei aqui. Mesmo que o tempo te levar..."

Teve um começo, um encontro, um olhar. Teve sua mão áspera, beliscões, sorrisos, lágrimas. Teve juventude, vontade, carinho. Teve ódio. Teve nós dois, sentados, nos olhando. Teve beijo, abraço, música, canto. Teve carta, e-mail, conversa de portão. Teve tudo isso, menos um fim. Já parou pra pensar que não teve fim? Eu penso nisso todos os dias, durante todos esses anos.

Sabe, eu lhe seria muito grata se um dia você me ligasse ou batesse no meu portão, ou mandasse uma mensagem, um sinal de fumaça, uma carta em uma garrafa, e dissesse com todas as letras que acabou. "Acabou, adeus. Até nunca mais". Pode falar baixo, você sabe que nunca gostei de escândalos, sabe que tenho ouvidos sensíveis. Pode escrever com aquele garrancho que você chamava de letra. Eu deixo você me mandar um e-mail e acharia até bem doce da sua parte se me escrevesse uma música. O importante é deixar claro que acabou. Seu silêncio todo esse tempo me deixou confusa, ludibriada, iludida pela possibilidade de uma história que não foi. Um história que começamos a construir e de repente... bum! A vida tirou você de mim... quero dizer, dessa vez preciso admitir que quem partiu fui eu. Mas esperei enquanto fazia as malas. Aguardei por uma ligação que nunca veio, dizendo que eu deveria ir, mas que não, não acabaria ali, ou simplesmente que sim, acabaria. Uma ligação contendo uma decisão da sua parte. Mas ficou tudo no ar, feito neblina. 

Gostaria de te contar que meu tempo por aqui vem acabando. Fiz tudo o que devia e agora, se você pedir, eu refaço as malas e volto. Voltamos a contar nossos números de onde paramos. Nos encontramos na esquina de sempre e seguimos dali, dessa vez, juntos. Mas se não quiser, se achar que é tarde demais, que o tempo passou, se ver que meus planos são melhores do que os seus, se constatar que quem eu tenho ao meu lado hoje pode me fazer mais feliz do que você, "tente mostrar que nada restou", anda, levanta daí, não seja covarde de me dizer isso. Eu só preciso ouvir pra seguir em frente. Mas antes, espera um minuto, tenho um segredo pra te confidenciar. O último segredo se me garantir que nunca mais entrará por aquela porta. Lá vai: eu não te amo. Mas um dia eu quis. E você me deixou do lado de fora, na chuva. Sem um "sim" e nem mesmo, veja só, um "não". 

Poço desculpas porque você sabe mais do que ninguém que de tempos em tempos eu arrumo um jeito de descarregar essa raiva que sinto da nossa história com estruturas de massinha à base d'água. Mas eu repito que serei grata se disser que acabou. Pode dizer que foi naquele momento em que virei as costas no parque, acabou quando desliguei o telefone no dia que liguei para contar sobre a nova cidade, acabou enquanto você tomava uma coca há quatro semanas atrás. Pode ter acabado a qualquer momento, eu não me importo. Só faça o que eu peço, e, "quando tudo terminar", eu poderei seguir o meu caminho e contar à quem quiser ouvir, tomando café em xícara de marfim, que vivi uma bela história, de início, meio e fim


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