sexta-feira, 4 de abril de 2014

História de um azarado

Lindomar era um cara de muito azar. A começar pelo nome. Lindomar. Dá pra acreditar? Rima até com a palavra "azar"! 
Sempre foi alvo de piadas na escola: "olha lá o lindinho...".
E por falar em escola: que azar! Era só entrar pra começar. Quebrava cadeiras ao sentar.
A luz queimava e perdiam ali uns quinze minutos só pra trocar. O vidro de cola estourava.
"Olha aqui, professora! O Lindomar já está a se sujar!" - gritavam os colegas aos risos.
No colegial chegava atrasado e o inspetor não deixava entrar. Voltava pra casa (aos tropeços) e a mãe punha-se à chorar: "Coitado do Lindomar!" 
Quebrava os presentes de Natal logo que começava a usar. Não era desastre, era azar.
Era um tal de bola que vinha furada pra cá, carrinho sem roda pra lá, boneco com defeito de fábrica...
E a época do vestibular?! Perdia os livros de estudar, esquecia o que acontecia na aula, não lembrava de copiar. Nem no dia que passou o azar abandonou. 
_ Cadê os documentos para a matrícula, Lindomar?
_ Ih, mãe! Esqueci de xerocar!
A época da faculdade foi confusa. Entrava na sala errada todo dia. Não entendia o que acontecia. 
Morou sozinho e teve que aprender a se virar, mas o arroz queimava, o chuveiro também. Na fila do restaurante, sempre em sua frente tinha um casal de amantes. Que constrangedor. Mandava roupas para lavar e voltavam furadas. E se lavava em casa: manchadas.
Lindomar precisou então, definitivamente, aprender a lidar com seu fiel companheiro.
"Há quem nasça cego e até sem membros. Há quem não tenha o que comer. Já eu, tenho azar." - pensava, tentando se acostumar.



Foi num dia de azar que conheceu Sara. Na fila do banco. Depois de duas horas de conversa serrada, descobriu que estava na fila errada. "Moço, a fila para empréstimos é lá na entrada." - disse a funcionária, exaltada. 
Pegou o número do telefone. Ligou e deu fora de área. Marcou um encontro quando conseguiu, mas o restaurante estava fechado. O trânsito engarrafou e tiveram seu encontro ali mesmo, no carro parado. 
Ela sorriu até ele se apaixonar. Depois de alguns meses pediu pra casar.
Até no dia do casamento foi confusão. O padre passou mal do coração. 
Mas houve substituição.
Casaram-se então, Lindomar, Sara e o Azar. 
Na hora do sim, ele não conseguiu segurar: "Quanta sorte eu tive ao te encontrar!" 



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