domingo, 29 de junho de 2014

Veja bem, meu bem


"Vamos viver para sempre desse jeito

Sem desatar esse nó
Ainda lembro de sempre esquecer que estou só"

As coisas nunca são do jeito de queremos. Ou pelo menos nunca são do jeito que imaginamos que deveriam ser. Eu te tenho aqui e agora. Mas não te tenho como queria ou como imagino que deva ser. Te tenho tão perto que chega a ser sufocante essa contraditória e irrisória distância entre nós dois. Sinto que firmamos um contrato mental com cláusulas seríssimas sobre inciativa, olhos nos olhos, palavras e cuidados, mas que falar sobre tal contrato se tornou um terrível sofrimento. E por falar em sofrimento, olha eu bem aqui, do seu lado, te olhando enquanto você tá distraído, pensando nas inúmeras possibilidades que teríamos se deixássemos que algo a mais acontecesse entre em nós. Admito que não sou a pessoa mais segura do mundo e garanto que você também não é, mas veja bem (meu bem), como estaríamos seguros se estivéssemos juntos: eu zelaria seu sono e você a minha insônia e insegurança de dormir no escuro, faria suas malas quando necessário já te olhando e pedindo que não se demore, faria o café e te olharia para ter certeza de que está se alimentando como deve, ligaria quando estivesse longe e pediria apenas que me conte sobre o que tem feito na parte da manhã, quando o primeiro raio de sol toca seu rosto. Eu te pediria paciência quando estiver mal humorada e te mostraria o mesmo sentimento se ver que está ocupado demais para me dar atenção. Aliás, eu continuaria te pedindo atenção como sempre fiz.
 Porém, dessa vez seria de uma maneira mais sutil, mesmo que com as mesmas brincadeiras. Ah, se deixássemos que algo a mais acontecesse... eu continuaria na minha eterna luta em tentar te fazer sorrir e também sorriria como uma criança por ter você sempre aqui, fazendo suas piadas. Mas veja bem, meu bem, temos esse maldito contrato. Essas cláusulas de aço, esse dever de cuidar da amizade como se ela nos impedisse de fazer outras coisas. Ela acaba, fazendo o que queremos ou não, eu sei que um dia ela acaba. Zelando ou não, ela pode acabar a qualquer momento. E aí? Aí eu te darei um último abraço e terei pela primeira vez coragem de dizer: "eu te quis". Estarei lá para o nosso último olhar, cheio de tristeza e arrependimento. Virarei as costas com incerteza se te verei novamente. E se passar muito tempo e não mais ser como é? E aí? Eu vou murchar, entristecer, fazer um belo drama como só eu se fazer e começar a procurar outro alguém (como você, como você). Realmente, as coisas não são do jeito que queremos. Eu nunca havia passado por isso e me adaptei à você por razões ainda desconhecidas. E ver o seu olhar distante me diz muito sobre a diferença dos nossos sentimentos. É como se eu te chamasse e você respondesse com um "espera aí" e nunca fosse onde eu peço. É meio que responder um "eu te amo" com um "muito obrigado". 

Um comentário:

César Melo disse...

que massa o texto Aline. Não concordo com as idéias todas, mas entendo o sentimento. Parabéns, continue escrevendo. :D