terça-feira, 8 de setembro de 2015

Vem Pra Cá

Ele, que tantas vezes suplicou por silêncio, ontem teve pesadelos e vagava pelo apartamento vazio às três da manhã, se incomodando com o motor da geladeira. 
Só queria ela ali. 
Ela e aquela mania idiota de rir dos defeitos dele sem nunca o deixar envergonhado. 
Ele tinha certeza de que ela riria dele naquele momento. 
E é isso que o fazia a querer ali. 
Será que ela conseguiria fazer uma mudança? Ele ajudaria a carregar as caixas. 
Ficou com saudade de dividir algumas coisas que eu só dividia com ela. 
A boca da garrafa de cerveja, o talher, o sofá, a TV, o degrau da escada, o travesseiro, a cama de solteiro. 
Enquanto vagava, ele se odiava. 
E ela iria rir tanto dele que ele se questionava o porque de se odiar assim, já que ela conseguia o fazer rir até quando estava triste. 
Ele se odiava por conta dessa mania inquieta de sempre querer ir embora dos lugares. Lembrou do dia que quis ir embora de onde morava, perguntou sua opinião e ela espondeu sem titubear um grande e belo “vem pra cá". 
Será que ainda dava tempo? 
Sabe, ela ainda o aceitaria? 
Ele sentia saudade! 
Será que precisaria vagar de novo?! Queria tanto que ela o aceitasse. 
Quanto tempo? Quis saber. Iria riscar o calendário. 
A esperava para uma visita na próxima semana. 
Mas teve medo de ainda precisar esperar mais de um mês, dois ou três. 
Teve medo de ter que esperar uma década talvez. 
Porque ele sentia uma puta vontade de ir embora de novo. 
Mas dessa vez queria ir embora de si. 
Será que ela o aceitaria?


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