quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Não bate essa porta!

"Existe rotatividade." Era isso que eu queria dizer desde o começo da conversa. Sempre existiu e dessa vez não vai ser uma exceção. Eu tentei falar que as coisas não eram bem assim, que ele não devia se exaltar. Mas não deu. Caiu mais uma vez no pranto melodramático de sempre e se pôs a jogar-me todos os argumentos fajutos que eu já conhecia, mesmo que não parecessem os mesmos da última vez. Não sei se é coisa de signo, mapa astral, vida bandida ou o Danoninho que tomo no café da manhã. Eu sou assim, sabe? Não tem como mudar. Vivo intensamente, me apego, sinto saudade sim. Mas quando acaba eu entendo. Acabou e pronto, tá ligado? É a lei da vida. Independente dos X motivos do fim. Não adianta ficar lamentando. Uma vez um amigo foi pra intercâmbio. Ficou fora quinhentos e quarenta e cinco anos e quando voltou, nada entre nós tinha mudado, era como se eu nunca tivesse me afastado dele. Outra vez uma amiga disse que ia ao bar da esquina comprar um refrigerante e não voltou, três semanas depois a vi em uma festa e olhou como se não me conhecesse. E aí acabou a amizade. E por que eu lamentaria? Algumas coisas tem mesmo é que acabar. Sabe a lei do “um morre pro outro nascer”? É mais ou menos isso.
Como cantou a grande e eterna banda Chiclete com Banana “Não vou chorar nem vou me arrepender. Foi eterno enquanto durou. Foi sincero nosso amor. Mas chegou ao fim”. Extremo da baranguice, mas a pura verdade.

Depois da discussão eu já tinha me cansado de ver como algumas pessoas simplesmente não aceitam esse fato. E ele não aceitou de forma alguma. Caramba, que coisa cansativa, não? “Ah Valentina, e quando trocávamos juras de amor? Isso não fez nenhum sentido pra você?”. Poupe-me. Já sabe que fez. Fez enquanto eu ainda me sentia confortável o suficiente pra olhar na tua cara. Agora não rola mais. E não acho as juras tão bonitas mais. Coisa de momento. Não, eu não estou cuspindo no prato que comi. Só estou tentando deixar claro (pela septuagésima décima vez) que você não é mais tão importante. E que isso passa. Vai passar, cara. Vai passar.

Sim, eu já fui diferente. Antes do Túlio, eu achava que tudo devia durar para sempre. Me apaixonei perdidamente pelo João Gabriel no 2º ano do ensino médio e eu achava que ele era meu melhor amigo e um belo dia eu vi ele beijando uma menina loira e desengonçada na festa junina da escola. Chorei perdidamente por exatas quatros semanas e dois dias, todas as noites. Meu deus, qual foi a necessidade disso? Sério. Para e pensa: eu, aos 16 anos (quantos anos devemos ter no 2º ano do ensino médio mesmo? Ah, tanto faz). Eu, na idade que um estudante de ensino médio deve ter, chorando enlouquecidamente por um garoto que mal saiu das fraldas. Tomar veneno era a solução de todos os meus problemas naquela época. E sabe qual a solução hoje em dia? Deixar pra lá. 

“Tem coisa mais importante na vida, Túlio”, tentei argumentar a certa altura do campeonato. Segue a sua vida que eu sigo a minha, ô imbecil. Vai ficar aqui chorando na minha frente pra quê se seus amigos tão ali no buteco tomando uma? Se você tem uma porrada de livros interessantes da sua estante e mais uma porrada tão grande quanto de meninas que gostam de curtir suas fotos no facebook?


Eu não sou tão durona assim. Falei e pensei todas essas coisas aos prantos. Quando é mesmo que eu vou aprender que chorar só deixa a outra pessoa achando que estamos péssimos? Eu não posso chorar sem estar ciente da minha posição perante a situação? 

Ele foi embora batendo a porta do meu apartamento como se não tivesse geladeira em casa. Eu voltei pro meu quarto e comecei a escrever esse texto sobre começo, meio e fim sem dramas. Agora eu  tô bem. De dramático já basta o cara que saiu pela porta. 


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